16 de abril de 2010

as palavras me vinham em toneladas. chegavam pelos correios, saíam da tela de televisão, saltavam das páginas dos livros, até dentro dos sapatos as encontrava. dançavam todas em um frenesi, tremiam de ansiedade, esperando que eu as escolhesse e as transformasse em cartas para você. acordavam-me, quando me haviam permitido dormir, senão nem isso elas me permitiam. mantinham-me noites a fio com os olhos arregalados para que pudesse escolhê-las todas. às vezes já me vinham ordenadas. outras vezes estavam em caos tão grande que jamais conseguiria ordená-las como queriam. algumas não queriam ficar presas no papel, queriam somente participar dos comícios e espetáculos. quando eu estava para pegá-las, fugiam descontroladamente aos berros, dizendo que eram livres e não queriam tomar forma, que estavam apenas se divertindo. ah, e como se divertiam à custa de minhas noites despertas. passei um ano, se me lembro bem das contas que na época fiz, sem dormir. depois que paramos de nos falar, as palavras passaram a falar por mim, em um movimento que nunca parou, que nunca mais em paz me deixou dormir.

Um comentário:

Unknown disse...

nossa, que bonito! me senti lendo um livro.